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nuvens

  • Writer: Fernanda Stocche Barbosa
    Fernanda Stocche Barbosa
  • Dec 4
  • 3 min read

engraçado como os dias têm parecido vidas inteiras. eu acordo com certo entusiasmo de acordar. Abro a janela com a minha cachorra. Olho para a vida, esperançosa. A manhã é como se fosse uma década. Acontece tanta coisa, eu penso em tanta coisa. Meu humor varia. 'Estou ok. Preciso chorar. Tenho que chorar, chorei. Que vazio gigante, que dor imensa. Agora não está tão vazio. Agora eu posso até dar uma risadinha'.


Faço umas piadas com a minha cachorra, faço musiquinhas, e aí eu vejo que ela me distrai. Mas logo me dou conta que eu me distraí da minha dor. Como se ela estivesse ali me chamando para lembrar dela. Como se estivesse sozinha. “Não me deixa aqui sozinha, não. Estou sozinha, vem me sentir, vem me sentir comigo.” É a hora que eu vou. Cedo. Eu acho que ela precisa mesmo de mim. Tem hora que eu quero só deixá-la em paz. E me deixar em paz, quero que ela me deixe em paz.


Uma hora atrás exatamente eu ouvi minha mensagem para ele. E o que tem sido um mantra. Foram duas mensagens de áudio onde eu consegui ser eu mesma, o que eu acho que é o mais importante nesse momento. Consegui ser doce. Consegui ser firme. Quando eu fiz 38 anos esse ano, em fevereiro, a legenda da minha foto era “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura.”


Será que eu endureci? A ternura eu não perdi mesmo. É meu isso. Endurecer é uma coisa que eu tenho que ganhar. Tenho que ganhar. Rigidez. Uma casca grossa. Para proteger a ternura. Eu achava que essas duas coisas não pudessem conviver, mas elas podem. E agora eu preciso do endurecer. Eu fico com medo de sentir dor. Eu nunca tive medo de sentir dor. Eu acho que poucas vezes eu tenho medo. Tenho me visto medrosa. Eu acho que o que eu tenho medo é de cair na mesma cilada e nao ir a nenhum lugar.


Mas julho e agosto foram meses cinzentos. Foram meses sem graça. Foram meses completamente sem esperança de vida. Aí eu conheci o Bernardo e enfim… melhorou ??) eu não quero viver aquilo de novo. Se a dor foi me servir de alguma coisa, ela bem-vinda. Se a dor foi só para estilhaçar o que já está quebrado, então eu não quero saber dela, não. Eu sei que quem vai determinar isso sou eu.


Talvez seja por isso que eu tenho sono. Olha o tanto de coisa que eu penso. E só sao 5h. O que a minha cabeça está trabalhando? Foda-se a academia. Tenho um músculo aqui que não para de trabalhar. Dois, né? O coração também. Que passou por essa montanha-russa, adrenalina bombeando sangue para todo lado. E agora está tentando, exausto, continuar bombeando sangue para que eu não me desfaleça. Continua. Continua agora para a corrida certa, né? Antes ele estava bombeando sangue para o coração de outra pessoa. E agora é para o meu. Não pode faltar força. Agora que eu preciso? Não. Mas eu entendo. Ele está cansado. Eu abusei dele esse ano. Eu abusei dele a minha vida inteira. E eu não vou deixar de abusar.


Nao pense vocês que eu estou mais quieta, mais destruidinha. Eu vou continuar usando meu coração do jeito que eu uso. Mas que seja para as pessoas certas. Ou até um pouco para as erradas. Mas não as tão erradas. Não as que vieram aqui com o objetivo de acabar comigo. Usar todo mundo pode. Todo mundo se usa. Todo mundo precisa de alguém um pouco. E a gente não é sempre legal. Você não pode ser só sacana. Você não pode ser só sacana. Não dá para ser. Não dá para só drenar.


Por exemplo, eu sei que eu estou drenando minhas amigas um pouco, porque eu estou abusando e usando e falando de mim pra caralho esse ano todo. Mas eu sei que eu devolvo algo à altura. Não exatamente na mesma moeda, mas eu devolvo algo — e eu vou ter uma vida inteira para fazer isso.


Mas não foi o que aconteceu comigo, não. Tem um rombo aqui. O ladrão foi esperto. Roubou grande. Plano quase infalível. Parabéns, querido

ree

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